Título Original: The Minority Report (conto)
Autora: Philip K. Dick
Editora: Editorial Presença
Páginas: 86
O livro - do qual julgo todos terão, pelo menos, uma ideia do que trata - explora diversos temas com enorme intensidade, concentrando-os numa narrativa breve mas densa no que toca às direcções apontadas.
Desde logo, o paradoxo criado pelo conhecimento humano que influencia a actuação de forma a impedir que qualquer predição do que será o futuro possa ser tomada como correcta.
Neste caso, acrescenta-se a isso a possibilidade de criação de universos (ou, pelo menos, linhas temporais) alternativos por assunção de um pressuposto teórico como verdadeiro.
Trata-se de uma metáfora evidente da evolução do conhecimento através do método de tentativa e erro, sublinhando a possibilidade perturbadora para a existência de persistir num erro permanente.
No final do livro sobra ainda espaço para um sacrifício idealista mas, fundamentalmente, pessimista. Que as pessoas acreditem de tal forma no benefício de um sistema que se sacrifiquem para que ele sobreviva é uma forma de distopia que parece, pela história do século XX, mais familiar do que inventada.
Foi o próprio Spielberg a dizer em Chambre 666 que é o último dos optimistas. Daí que a sua versão de Minority Report tenha acabado por ser sobre a liberdade individual contra a grande máquina opressora que controla o ser humano através de pré-determinação.
A derrota da submissão acrítica acontece tanto para quem faz parte do sistema, para quem lhe é subserviente e para quem é explorado por este.
O valor humano individual sobrepõe-se a qualquer outra visão do mundo.
O filme é, por esta diferença, já uma obra de identidade própria. Ainda mais porque se faz de um saudável entretenimento que combina alguma da mais original e enérgica concepção de acção que ainda podemos ver no cinema.
Aliás, foi este um dos filmes que ajudou a marcar um dos melhores períodos de Tom Cruise em Hollywood, com filmes mais exigentes e maduros, mas que aqui conseguiu combinar esse crescimento com o seu género favorito – ou, no mínimo, mais recorrente.
Fica de fora a comparação directa com o livro (mais precisamente, com o conto).
São, de facto, duas obras distintas a merecer igual dose de atenção.