Título original: Alice (2005)
Realização: Marco Martins
Argumento: Marco Martins
Elenco: Nuno Lopes, Beatriz Batarda e Miguel Guilherme
Alice tem dois protagonistas: Nuno Lopes e Lisboa. Nuno Lopes tem inquestionavalmente das maiores interpretações de sempre do cinema português. Lisboa tem o retrato oculto mais correcto dos últimos anos. Ambos vivem em extrema solidão.
Marco Martins, nesta sua primeira longa-metragem, quase se arriscou a ficar sem filme. Afinal o realizador e argumentista, eliminou ao máximo todos os conceitos cénicos e dramatúrgicos, expondo-nos a um retrato nu e cru da solidão e da ausência. Alice baseou-se no desaparecimento do jovem português Rui Pedro e da eterna busca solitária e obsessiva da sua mãe, mas não deve ser reduzido a isso.
Alice é um filme negro e escuro, como é a ausência. O filme aborda o vazio, através do comportamento obsessivo de Mário (Nuno Lopes), que busca a sua filha, após o seu desaparecimento, seguindo todos os dias os mesmos passos aquando o desaparecimento de Alice. Nuno Lopes tem uma prestação singular e única, deprimente até, lidando de forma cruel com as emoções do espectador.
Interessante também são as temáticas abordadas por Marco Martins, que vão além do desaparecimento e busca de uma criança, explorando ao máximo a vertente humana das suas personagens. Alice explana o modo como várias personagens lidam com a solidão e a ausência, através de Mário. Todos eles vivem em solidão, servindo-se da agonia de um pai em busca de uma filha, para colmatar a ausência que eles mesmo sentem. A privacidade e o Big Brother, explorados por Orson Welles, são subtilmente abordadas no filme, sob a forma do sistema de vigilância com câmaras instaladas em pontos estratégicos de Lisboa, de forma a Mário conseguir vigiar as pessoas e notar qualquer pormenor que o conduza a Alice.
Lisboa é aqui descrita, longe do romantismo habitual, mas com uma descrição realista de uma cidade escura e fria, uma cidade que lhe levou a criança. A dada altura do argumento existe um choque enorme entre Mário e Lisboa e que atinge o seu auge a meio do filme.
Fascinante também é narrativa aberta com que o realizador nos brinda, forçando-nos a tomar uma decisão, levando o espectador a assumir múltiplos finais, para tranquilizar a sua mente.
Extras:
- 8 Cenas Cortadas
- Making Of Alice
- “Por Outro Lado” RTP2
- “Globos de Ouro 2006″ SIC
- Biografias
- Conteúdos DVD-ROM
- Trailer
o melhor filme português de que há memória.
ResponderEliminarApenas o vi hoje pela 1ª vez mas tenho a certeza que não será a única... Um filme sufocante em que Marco Martins com pouco faz muito cheio de nada. Nuno Lopes tem, de facto, uma interpretação notável, especialmente ao nível da expressão facial e olhar... Beatriz Batarda não lhe fica nada atrás nas poucas cenas em que aparece e todo o restante elenco está à altura... A banda sonora é fenomenal, com especial destaque para os sons ritmados...
ResponderEliminar*Spoiler*
As minhas duas cenas preferidas são a cena das batatas fritas (Batarda está indescritivelmente excelente) e a cena da câmara da montra (a cena da 2ª foto da notícia).
Sou-te sincero, já não me recordo o suficiente do filme para reconhecer essas cenas, mas de qualquer forma concordo com tudo o que dizes. É um dos meus filmes favoritos de sempre e um dos melhores portugueses.
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