Título original: Last Night (2010)
Realização: Massy TadjedinArgumento: Massy TadjedinQuando no cinema se explora o Amor e os relacionamentos entre casais, é sempre difícil não cair no marasmo de uma temática já de si explorada em demasia e evitar os típicos lugares-comuns dos dramas amorosos. Daí que quando, de tempos a tempos, nos chegam filmes tão simples mas tão honestos como este
A Última Noite há razão para louvores.
A estreia na realização da argumentista Massy Tadjedin é um desses casos raros de equilíbrio nas temáticas recicladas vezes sem conta no cinema. Típico drama de traição e ciúme, características comuns entre relacionamentos, mas partindo desses princípios, subverte a temática de um modo subtil colocando dúvidas tanto às personagens como aos espectadores, que nunca sabem de que lado da balança se devem colocar, quão grande é o sentimento de familiaridade que desperta. Mas mais que isso, o drama explora o campo das possibilidades e as consequências das decisões tomadas. E se pudéssemos voltar atrás? E se tudo se tivesse passado ao contrário? A eterna dúvida entre casais, perfeitamente compreensível, mas que os coloca no limbo da incerteza. E se…?
Entre a traição física e emocional existem diferenças? No meio dos desejos do passado e os do futuro, há diferença entre o que culmina numa traição física e palpável e um apego emocional profundo que nunca chega a ser consumado? As personagens do filme não o demonstram, nem
Massy Tadjedin se dá ao trabalho de julgar as suas atitudes. Porque de uma forma ou de outra todos já traíram em acções ou pensamentos, todos nós já nos sentimos tentados ou inseguros. Existe certo ou errado? Em que preciso momento se diferencia o branco do preto? Dúvidas que nos assolam durante o filme, enquanto nos vemos observadores de momentos íntimos das personagens, filmados de uma forma delicada e atenta aos pormenores mais subtis.
O argumento extremamente simples é suficiente já que os magníficos planos falam por si só, fazendo recordar o filme
Closer (2004) numa escala mais pequena. A intensidade dos olhares ou a forma como filma Nova Iorque como uma personagem só engrandecem a harmoniosa
mise-en-scéne do filme. De destacar a elegância e fragilidade de alguns planos como a transformação que sofre a personagem principal, interpretada por
Keira Knightley, quando se veste para reencontrar um antigo namorado ou o plano das suas sandálias no chão enquanto deambula pela casa de meias, como um regresso ao conforto doloroso do seu lar. Apontamentos que fazem o filme. Também a fotografia de
Peter Deming (
Mulholland Dr.) e a banda sonora original de
Clint Mansell (
Requiem for a Dream) complementada com outras composições como a “
Not at Home” de
Peter Broderick são destaques principais.
Também o elenco está bastante bem.
Keira Knightley disfarça a sua habitual performance apática entregando um dos seus mais sinceros e interessantes trabalhos dos últimos anos numa interpretação sofrida e contida muito bem complementada pela química criada com o talentoso actor francês
Guillaume Canet. Embora
Eva Mendes e
Sam Worthington sejam de facto o elo mais fraco, ambos mantêm prestações razoáveis.
O clímax da história é destroçador, onde o silêncio diz mais que qualquer diálogo do filme.
A Última Noite pode não ser uma obra-prima, mas a sua simplicidade e delicadeza tornam-no numa interessante proposta de cinema.
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