A Cor do Dinheiro, por Carlos Antunes

Título original: The Color of Money
Realização: Martin Scorsese
Argumento: Richard Price
Elenco: Paul Newman, Tom Cruise, Mary Elizabeth Mastrantonio e John Turturro

A Cor do Dinheiro é o menos interessante dos filmes de Scorsese, o que dificilmente significa que seja mau.
A eficácia de Scorsese está lá, a sua qualidade está lá, mas parece anónima, feita com a consciência de um profissional mas sem a dedicação de um artífice.

Nem é pelo facto de se tratar de uma sequela (ainda que não oficial) de The Hustler, um filme extraordinário que não precisa de acrescentos ou revisões.
Trata-se apenas de uma personagem em cuja história Scorsese não encontrou uma ressonância pessoal, não podendo dar algo de verdadeiramente seu ao projecto.

Não que a personagem não seja fascinante, movendo-se em meios sedutores na sua composição única. Isso já tinha ficado provado em The Hustler e ainda se consegue ver aqui.
Mas a sensação que fica é de um certo apagamento, uma passagem de testemunho sem muita razão de ser.
Se o seu próprio apagamento necessita de uma compensação em que reviva os seus tempos de glória ou se precisa de uma possibilidade de legado, nunca é uma percepção que possamos ter.

Por isso mesmo ninguém apaga a sensação de que nem a classe que Paul Newman demonstra sem esforço algum estava toda aqui aplicada.
Nem que o Oscar que lhe atribuiram por esta interpretação - e logo no ano seguinte ao Oscar Honorário - teria sido mais merecido por qualquer uma das nomeações anteriores.

Se este filme tivesse sido feito por qualquer outro realizador, a sua eficácia seria caso para falar em obra maior.
Para Scorsese foi um cumprir de funções. Não retira muito do prazer que tem reencontrar Fast Eddie Felson, mas fica apenas como suficiente.