Título original: L'immortelRealização: Richard BerryArgumento: Richard Berry,
Eric Assous e
Richard BerryElenco: Jean Reno,
Kad Merad,
Gabriella Wright e
Marina Foïs
A história de um mafioso que se retira mas não consegue escapar ao seu meio, que tem como nova prioridade a família e, por isso, se descuida, não tem nada de novo a não ser o cenário, Marselha.
Nem por isso deixa de ser um belo filme sobre a impossibilidade da moral na vida de crime e sobre lealdades.
Claro que o chamariz de ser um filme dos mesmos produtores de Busca Imparável promete um percurso alucinante de mortes, o que cumpre ainda que com alguma moderação (por comparação), mas só na segunda parte.
Antes disso centrou-se nas suas personagens, em emoções intensas e num percurso de construção dramática credível, embora, como se verá, complicada em todas as implicações de lealdades, traições e retribuições.
Isso coloca o filme uns furos mais acima do expectável e, melhor ainda, dá-lhe alguma personalidade dentro das sua directrizes pouco inovadoras.
A fidelidade comprometida entre antigos amigos jurados, a moralidade dentro de um mundo imoral que encontra a vontade de vingança de uma agente fiel à lei mas desejosa de um apaziguamento que esta nunca lhe trará. São temas fortes, reconhecíveis, mas ainda com vida nova a darem.
São os motivos que cruzam três personagens de motivações fora do contexto que deveria ser o seu. O Padrinho que prefere o esquecimento à vingança. O gangster que adquire o poder mas continua a temer quem largou tal vida. A polícia a quem o gangster matarou o marido mas que nunca conseguirá uma condenção.
A dinâmica do trio constrói um cenário com bons propósitos para o desenrolar final porque em nenhum momento as suas acções são motivadas por motivos egocêntricos, sempre por relações com outros elementos que não tiveram nem escolha nem hipótese de se verem no pior ponto da trama.
Entre os actores, não há como escapar a Jean Reno e à sua seriedade. A sua concretização da personagem, por vezes sofrida, noutras alturas roçando a superação absurda das suas limitações, é pouco credível mas surpreende por resultar de forma digna.
O destaque, no entanto, vai para Kad Merad, bem recordado por Paris 36, que aqui sabe ir deixando rastos de leveza (quase) cómica e de ferocidade emocional que equilibram a narrativa.
Nota de surpresa, ainda, para o realizador, que evolui rapidamente daquele início estilisticamente comprometido e duvidoso para uma solidez que sustenta bem todo o tipo de cenas, emocionais ou de acção.
O conjunto dá um filme de público lato, como os franceses sabem ainda tão bem fazer com um equilíbrio entre o entretenimento e a composição mais profunda.
Não é pela inovação ou pela genialidade que ele se distingue, mas por ser um filme de parâmetros sólidos num meio cada vez mais polarizado entre extremos qualitativos.